Biel é um cara bem legal. Quase nunca desgosta de alguma coisa. Só não gosta mesmo de solidão e café frio, o resto ele releva tudo. Biel tem uma turma de amigos, que quando junta, todo mundo parece que tá na lua. Porque todo mundo fica sem gravidade, fica flutuando. Nada tem gravidade nos encontros da turma. Nada é grave também. Ser avoado por gosto e vocação, lá na turma todo mundo sabe ser. Quer saber?
A Ana é uma menina que gosta de laço de fita azul na cabeça. Ana diz que não gosta de heróis que voam. Prefere os que sabem voar. Ana acha que seu pai sim, é um super-homem. Todos os dias ele ensina Ana a voar.
Malu é uma menina que ama a madrugada. Ela acha a madrugada poética. Só dorme depois que o sol aparece, pra não perder nem um tempinho da dança que a escuridão e o silêncio fazem dentro dela. Ela diz que o dia é cheio de trivialidades e boboquices de humanos robôs. A madrugada é mais fiel e mais leal que o dia. A madrugada é mais dela que dia. O dia é de todo mundo. De toda essa gente igual. Malu nem se importava quando a chamavam de pretensiosa quando ela dizia que a madrugada era dela. "Maludrugada", ela dizia.
Raí tem carro da hora e cabelo com gel. Só a vaidade dele é maior que sua casa. Nenhuma outra coisa é. Uma mansão, com muro alto. Mas Raí prefere a casa com cerca baixa do Biel. Ele tem palácio, mas tem não abraço. Para ele, comer pipoca e rolar de rir no sofá velho do Biel, é bem mais legal que jantar granfino, com prato enfeitado e gente ensaiada.
E tem o Beto, o menino do cabelo enroladinho. Beto tem um violão e voz mansa. Sonha em cantar na lua. Fala de astros e é fã do Caetano. Tem plantação no quintal de casa, mas não é horta nem pomar. Vive numa camisa do Guevara e beija sempre na testa. Sonha com revolução, blues e Fumaça verde.
Biel só é professor de matemática até quinta. Sexta a domingo, ele é anfitrião daquela turma, que de tão chegada, nunca se vai. Sempre fica pela casa. Fica o cheiro, as cinzas, os cascos vazios, os discos, o violão extra do Beto, uma fita da Ana pelo chão. E fica o bem-querer. Pela casa toda. Exalando. Cheirinho de amor é coisa boa sentir...
Esse texto proporciona em quem tem sensibilidade e gosta dos atos simples da humanidade uma sensação de que os sorrisos e os sonhos valem muito para a realização da vida.
ResponderExcluirArmaria, Serginhooooo!! Coisa mais linda você falando <3. Muito obrigada mesmo.
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